ORALIDADE
Sabemos que o primeiro contato da criança com o mundo se dá pela boca; é com este órgão que ela já se comunica, mesmo ainda sem ter fala, aceita ou rejeita alimentos, sorri, chora, balbucia. Além disso, ela explora o mundo e passa a conhecê-lo como um pesquisador. Ao colocar os objetos na boca, como podemos observar em todo bebê, ele o experimenta, o explora, sua textura, sua consistência. Essas situações tornam a boca uma parte do corpo muito sensibilizada. Para Freud (1997) este momento designa uma fase: a Fase Oral, na qual a zona erógena principal é a cavidade oral e os lábios, lembrando que zona erógena é a região da pele ou mucosa que, a partir de certos tipos de estimulação, provocam sensação prazerosa, é o órgão que fornece excitação antes que o genital seja o objeto em questão.
O órgão que antes proporcionava satisfações relacionadas aos processos orgânicos (alimentação) começa também a ser fonte de prazer. As atividades que têm como função a preservação da vida também satisfazem e isso abre a possibilidade para que esta sensação se torne independente da situação orgânica inicial.
A MORDIDA
Há diferentes formas disso se apresentar na criança, há uma mordida esperada até os três anos de idade. As mordidas são conhecidas, comuns
entre as crianças, mas sempre preocupam pais e professores. Para entender o
fato, é preciso voltar nossa atenção para o desenvolvimento físico e emocional
das crianças.As crianças conhecem o mundo pela boca, pequenas têm interesse e curiosidade por tudo que há à sua volta. A grande interação com o mundo, todos sabem, principia pela boca, por onde o indivíduo faz importantes descobertas separando o que o constitui e o que constitui o outro. Significativas sensações de prazer físico, psíquico e social acontecem nesse período, que acompanha a dentição.
Na fase oral, encontramos, com freqüência, a criança mastigando, sugando, chupando, produzindo sons, levando objetos à boca. E mordendo. Desejando conhecer o outro, apropriar-se dele - coisas e pessoas - , manifesta-se desse modo.
Casos como este fazem com que o adulto se mobilize, sofra com a criança e crie oportunidades na instituição para lidar com o problema, como reuniões interdisciplinares para discutir a posição da criança na sala, a criação de projetos pedagógicos com brincadeiras que trabalhem as questões, conversas.
Atraves do exemplo diário mostramos que, através da fala, as pessoas se comunicam e resolvem os conflitos, e então a criança perceberá que esta pode ser uma nova possibilidade. No momento da mordida há muito o que fazer para ajudar a criança a encontrar outras vias de expressão: a conversa tranqüila com a criança para entender o porquê da mordida, a observação das situações nas quais ela ocorre, mostrar firmeza quanto a combinados feitos junto à criança ao que se refere à mordida (insistir nos limites), dar outras opções para satisfazer os impulsos orais da criança como morder a bolacha, o brinquedo, a chupeta, mas não o corpo do colega.
Uma mãe, minha amiga de longa data, vive recontando as histórias de seus dois filhos. O primeiro foi mordido algumas vezes pelos colegas, e isso doía mais nela (quem não a compreende?) do que no braço dele. O segundo filho, dois anos mais novo, foi para o outro lado da corda: até babava, literalmente, quando via uma bochecha por perto. Aborrecido, então, distribuía empurrões e marcas de dentes entre os que estivessem ao seu alcance. Ela não sabe quando sofreu mais: se quando mãe da vítima ou mãe do agressor.